terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Rita Lee critica ação policial durante show


Redação do DIARIO DE PERNAMBUCO.COM.BR

A carreira da cantora Rita Lee sempre foi abastecida de polêmicas e sua aposentadoria nos palcos não poderia ser diferente. No último sábado, cinco dias após declarar que não faria mais shows, a “tia” do rock brasileiro cumpriu seu último compromisso, durante o Festival de Verão Sergipe 2012, tocando para um público de 20 mil pessoas, mas acabou detida por policiais após a apresentação. “A sensatez falou mais alto no momento, por isso a polícia não parou o show”, chegou a afirmar o tenente-coronel Adolfo Menezes, responsável pela segurança no local.

Durante a noite, Rita afirmou ter visto alguns membros de seu fã-clube serem vítimas de ações agressivas por parte da polícia. Depois de dizer que não queria o policiamento em sua derradeira apresentação, completou: “Vocês são legais, vão lá fumar um baseadinho”. Quando os homens se postaram diante dela, formando um cordão de segurança, a roqueira afirmou não ter medo deles, relembrou os tempos de ditadura e xingou os policiais militares de cavalos e cachorros, usando também palavras de baixo calão. O governador Marcelo Déda (PT), que estava na plateia, afirmou ter testemunhado um “espetáculo deprimente” e destacou que os PMs não agiram de forma que justificasse a atitude da cantora.

Assim que desceu do palco, Rita Lee, 64 anos, foi levada a uma delegacia de Aracaju, e postou diversos protestos em sua página do Twitter: “A polícia não gosta de mim, mas Sergipe gosta”, escreveu. Na mensagem seguinte, chamou a polícia de “abusiva e abusada”, destacando que não tinha obrigação de ir à delegacia. Pouco depois, escreveu que não havia embasamento legal para a prisão e que não retirava nada do que havia declarado.

Ao chegar à delegacia, Rita teve o apoio da vereadora de Maceió Heloísa Helena (PSol), que assistiu à apresentação e assinou o boletim de ocorrência a seu favor. “Solta graças à vereadora Heloísa Helena, que estava na plateia e prestou idêntica versão”, publicou ontem em seu Twitter, três horas após a última manifestação, indicando que o imbróglio estava resolvido. Segundo o documento policial, a artista teria sido detida por desacato e apologia ao crime (artigo 287 do Código Penal).

Emoção - Rita Lee disse ao delegado da Polícia Civil Leoginis Corrêa, em depoimento, que agiu por emoção. De acordo com informações da Delegacia Plantonista de Aracaju, o delegado de plantão no evento, logo depois do show, intimou a cantora a prestar esclarecimentos à Corregedoria da Polícia Militar, às 9h de ontem, dia seguinte ao evento. Ela se recusou. Diante da recusa, Rita Lee foi levada para a delegacia. Durante o depoimento, afirmou que “todo o ocorrido se deu como uma reação emocional, provocada pela ação truculenta desnecessária” dos PMs.

De imediato, o assunto começou a repercutir nas redes sociais. As opiniões se dividiam entre defender Rita de uma ação policial exagerada e acusá-la de tentar causar desordem. Os artistas também se manifestaram sobre o caso. Pelo Twitter, o músico Lobão lamentou: “Era só o que faltava. Prender a Ritinha é de última”.

Houve também repercussão internacional. O diário argentino Clarín destacou, em sua página na internet, que a “rainha do rock” brasileiro foi detida no último show de sua carreira por insultar a polícia e chamar os agentes para fumar “um cigarro de maconha”.

Rita Lee vai desfilar no carnaval pela primeira vez


Pela primeira vez, Rita Lee aceitou um convite para desfilar no carnaval. A roqueira será uma das homenageadas pela escola de samba paulistana Águia de Ouro, que nesse ano tem o movimento tropicalista como tema. "Vou apoiar a Águia de Ouro... Tropicalidades no poder, carro alegórico com os 'mano' e as 'mina' que me ensinaram o Brasil", disse em seu Twitter.

Ao lado de Rita estarão outros integrantes da Tropicália, movimento cultural do final da década de 60, como Caetano Veloso e Tom Zé.

A despedida de Rita Lee
por Paulo Moreira Leite

Se o show em Sergipe foi mesmo a despedida de Rita Lee – torço para que ela mude de ideia algumas vezes — eu queria dizer que foi uma cena final à altura dos melhores momentos do rock. Ela está de parabéns.

Vamos combinar: roqueiros bem comportados, que só dizem aquilo que combinaram com a turma do marketing e cometem gestos de rebeldia simulada que não arranham nem incomodam ninguém são insuportáveis.

Os marqueteiros querem transformar roqueiros em monges. O pior é que muitos se submetem. Não aguento, por exemplo, o jeito bom moço de Bono, que vem ao Brasil dizer como é que o governo deve cuidar dos pobres. Ou as inquietações sociais de Madonna com a infância carente, a ponto de querer visitar uma escola pública. Ou aqueles tantos contestadores de butique.

Não tenho a menor condição de julgar se Rita Lee estava certa ou errada na confusão sergipana.

Mas lembro que os roqueiros não precisam estar certos para ter razão. Às vezes, eles falam coisas certas mesmo por gestos errados.

Lembro dos sucessivos escândalos de Beatles e Rolling Stones, muitos deles inconvenientes, tortos, que ajudaram a mostrar o provincianismo da sociedade daquele tempo. Não dá para esquecer a perseguição sofrida por roqueiros solidários com a juventude que resistia a Guerra do Vietnã. Lembro de Serge Gainsborough, que não era roqueiro mas tinha o espírito. Eu estava na França quando ele fumou uma nota de 500 francos num programa de TV. Foi processado.

Rita terminou a noite numa delegacia. Glória. Isso diz muito sobre nós.

Todos os palavrões que Rita Lee empregou para se dirigir a PM de Sergipe estavam na boca de boa parte dos jovens brasileiros. Penso no estudante da USP que apanhou de um soldado porque não quis mostrar a carteirinha. Penso em quem assistiu a ação no Pinheirinho. Você sabe: a lista de exemplos é bem maior. Em vários pontos do país o tratamento que a PM dispensa aos jovens provoca revolta e indignação.

Rita Lee nunca teve medo de dizer, em plena ditadura, quando a PM agia à solta: “Roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido…”

Eram outros, tempos, claro. A criminalidade era outra. Bandido queria dizer outra coisa. Por isso era bom, divertido. Sou a favor da PM. Acho que o país precisa de um bom aparato policial, com policiais bem pagos e bem treinados.

Mas está na cara que a PM precisa reaprender a lidar com a juventude.

Parabéns, Rita Lee.